Água mole em pedra dura...

2005-07-08

Direito à indignação

Que privilégios?

Sou professor desde 1985. Tirei uma licenciatura em
Ensino que paguei com o meu trabalho. Tenho duas pós-
graduações que paguei do meu bolso.
Encontro-me (congelado) no 8.º Escalão da Carreira
Docente. Leccionei, durante o presente ano lectivo,
as disciplinas de Língua Portuguesa, Francês, Oficina
de Teatro (oferta da escola), Área de Projecto e
Formação Cívica. Fui director de turma e responsável
pela coordenação pedagógica da Formação Cívica.
Ponho do meu bolso muitas vezes para que al­gun
s alunos possam participar nas acti­vidades
(este ano, por exemplo, paguei os bilhetes a alunos
numa visita de estudo ao Teatro Nacional D.Maria II).

Trabalhei durante o feriado municipal (7 de Junho),
no dia 9 até às 24 horas e no sábado, 11 de Junho,
toda a manhã a montar uma exposição de todos os
tra­balhos da Área de Projecto. Carreguei escadotes,
expositores, subi e desci. Não meti um único atestado
médico durante o ano. E vêm falar da porra dos
privilégios. Recebi de vencimento, no mês de Maio,
1437,22 euros.
Descontei para a Caixa Geral de Aposentações/Segurança
So­cial 201,41 euros e de IRS 433,00 euros.
Privilégios? Troco já por uma outra profissão com o
mesmo salário e que se f... os privilégios!

Não vivo no luxo. Não passo férias no estrangeiro.
Pago mensalmente à CGD a hipoteca de um T3,
sem garagem e sem piscina.
Pago mensalmente um Honda Jazz.
Não tenho Audi, BMW, Mercedes, jipe, casa de férias.
Que porra de privi­légios?

Venham dar aulas. Venham ver como se comporta a
maioria dos alunos dentro e fora da sala de aulas!
Venham ver a falta de autoridade, a falta de respeito,
o enxovalho quase permanente!
Com isto não está preocupado o Ministério da Educação,
nem a Confap. Areia para os olhos!

Sou professor, repito, não um mal­feitor.

JOSE JOAQUIM ARAÚJO

Carnaxide


In Jornal Público

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