Água mole em pedra dura...

2007-04-22

O Norte, visto por Miguel Esteves Cardoso

O Norte é feminino.

O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher
portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá
nas vistas sem se dar por isso.

As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis,
daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se
sozinhos.

Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de
frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão
confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas,
graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas
pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as
verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram
quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma
panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo
puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os
olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos
brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de
braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como
conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas.

São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte
deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em
Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão,
numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente.

Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial.

Só descomposturas, e mimos, e carinhos.

O Norte é a nossa verdade.

Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no
Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só
porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que
preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o
Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português
escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores.
Depois percebi.

Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não
escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as
defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O
Norte".

Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender
Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua
pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma
terra maior, é comovente.

No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em
Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte
de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita.
O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho
ou Trás-os- Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece
vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para
as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima
de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para
adivinhar.

O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós
todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm e
dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a
maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse
só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos
outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?».

Miguel Esteves Cardoso (abridged)


2007-04-19

Ponte de D. Zameiro, 900 anos de História ao abandono

"Que bem merece que façam algo para ela...Está meia destruida e em riscos de ruir, na sequência de umas incríveis obras de "recuperação" patrocinadas pela Petrogal, que insiste em alterar o leito do rio para garantir maior caudal no abastecimento de água do Ave à refinaria de Matosinhos. Vamos aproveitar para fazer algo pela Ponte D.Zameiro (que até é uma das nomeadas "7 Maravilhas de Vila do Conde")? São 900 anos de História, a ver passar muitas estórias..." enviado por mail

Como é possível isto acontecer numa zona nobre como a beira-mar?

Macedo Vieira admite ‘shopping’ à beira-mar


Apontando a construção de um ‘shopping’ como uma necessidade para o reforço da atractividade turística da cidade, o presidente da Câmara Municipal já admite a construção dessa superfície comercial junto ao mar. Macedo Vieira recordou o Plano de Pormenor que está a ser feito para os terrenos de Varzim SC e Clube Desportivo da Póvoa. “Aí também seria um bom local”, afirmou o autarca.
in Póvoa Semanário

Coitados daqueles que elegeram essa zona como uma zona sossegada para morar!

Simulador de consumo de água


Vale a pena fazer a simulação.
Talvez consigamos diminuir o consumo e o desperdício de um bem cada vez mais escasso.

http://www.epal.pt/epal/novosim.aspx

2007-04-17

Sócrates, o mentiroso


Um pouco por todo o lado se ouve comentar a polémica falcatrua da licenciatura de José Sócrates. Contudo, tenho ouvido algumas pessoas criticarem, com indignação, toda a investigação que tem permitido apurar a verdade ( ou a falta dela ) desta triste história, alegando ter o país assuntos mais importantes do que estes e que não é importante que o primeiro ministro tenha ou não um curso.
Ora bem, eu fico ligeiramente confusa. Obviamente que não é importante que o primeiro -ministro tenha uma licenciatura (importante é que ele desempenhe o cargo com eficiência e transparência). Mas parece-me extremamente grave que um primeiro-ministro se faça passar por aquilo que não é e que minta descaradamente. Quanto mais não seja pelo exemplo que dá.
No outro dia disse-me um adolescente: " Não devo mentir, porquê? Até o primeiro ministro mente e não lhe acontece nada!". Contra factos não há argumentos...

2007-04-13

Homo Habilis


Ultimamente, ao viajar através da nossa paisagem rural, tenho reparado que cada vez temos menos paisagem rural. De dia para dia, os espaços verdes e agricolas dão lugar, a uma velocidade galopante, a casas, casas, prédios, prédios, de todos os tipos e feitios, ao gosto ( ou falta dele) de cada um. Será que ninguém se apercebe que o património natural destruído jamais é recuperável?
Queremos apostar no turismo, mas o que ofereceremos aos turistas, cimento armado?
É este país descaracterizado e desolador que queremos deixar à próxima geração?

2007-04-12

O marido está em casa a ver um jogo de futebol, quando a mulher sai e volta logo a seguir e diz-lhe :
- Querido, podes arranjar o meu carro? Ele parou de funcionar assim que saiu da garagem...
- Consertar o teu carro? Estás a ver Fiat escrito na minha testa?
A mulher pergunta:
- Então podes arranjar a porta do frigorí­fico? Ela não está a fechar bem..
E ele respondeu:
- Arranjar a porta do frigorí­fico? Estás a ver Siemens escrito na minha testa?
- Está bem - disse ela. Então podes pelo menos trocar a lâmpada da porta da frente? Ela está queimada há semanas.
E o marido:
- Trocar a lâmpada da porta da frente? Estás a ver Philips escrito na minha testa? Eu não te aguento mais! Vou para o bar beber umas cervejas!!!
Então foi para o bar e bebeu durante algumas horas. Entretanto, começou a sentir-se culpado pela forma como tinha tratado a mulher e decidiu voltar para casa e ajudá-la.
Quando chegou a casa viu que o carro já estava na garagem, a luz da porta de entrada já estava trocada e foi buscar uma cerveja e percebeu que a porta do frigorífico também tinha sido arranjada.
- Querida - perguntou ele - como é que todas estas coisas foram arranjadas?
E ela respondeu:
- Bem, quando tu saíste eu sentei-me lá fora e estava a chorar. Então, apareceu um jovem muito simpático, que me perguntou o que é que tinha acontecido e eu contei-lhe.
Ele ofereceu-se para arranjar tudo, e eu só tinha que escolher entre ir para a cama com ele ou fazer-lhe um bolo.
O marido disse:
- Então, que tipo de bolo é que lhe fizeste, meu amor?
E ela respondeu:
- Helloooooooo!!! Tu estás a ver " DANCAKE" escrito na minha testa?

MORAL DA HISTÓRIA:
MARCA QUE NÃO DÁ ASSISTÊNCIA, ABRE ESPAÇO PARA A CONCORRÊNCIA!!!

2007-04-11

Parque da cidade

Ou é da minha humilde vistinha, ou estão a aterrar, possivelmente com areia ensalitrada, a terra fértil do ex-futuro parque da cidade?

2007-04-10

Carolina Salgado e o Procurador Geral da Republica

" A Carolina Salgado é mais importante que o P.M." , Miguel Sousa Tavares - TVI

2007-04-06

Feliz Páscoa


Para os católicos, Páscoa significa ressurreição, renascer. Gosto desta ideia. Vivemos numa era complicada, em que o individualismo, o materialismo, o consumismo, acabam por fazer em nós os seus estragos. Assim, para nos mantermos próximos daquilo que realmente importa na vida, das coisas simples, e sãs, de tempos a tempos é importante confrontarmo-nos connosco, questionarmo-nos, por vezes, refazermo-nos a nós e aos nossos objectivos na vida. Quase sempre acabamos por nos conhecer melhor, por nos relacionarmos melhor com os outros e por operar mudanças importantes, ainda que normalmente imperceptíveis , na nossa vida. Acabamos por renascer.
Desejamos aos nossos leitores uma Páscoa muito feliz.

2007-04-04

Um livro que todos deveriam ler - uma grande lição de vida


O maior ensinamento de Baden-Powell é a sua vida. O seu estilo de vida. E a sua sabedoria. (…) Se deixássemos que a Vida nos ensinasse as suas leis, provavelmente a nossa vida seria muito diferente. (…) De facto, passar pelas coisas mais terríveis sem nos deixarmos endurecer ou esmorecer por elas e, sem nenhum tipo de evasão ou escapismo, irradiar uma alegria serena e um optimismo contagiante, é uma das lições que Baden-Powell nos oferece na sua vida posta em livro.

Rui Lomelino Freitas in «Introdução»

Num mundo em que grassam a intolerância, os conflitos religiosos e étnicos, a delapidação dos recursos naturais, a fome e o mercantilismo amoral, a única esperança reside apenas nos homens e nas mulheres de grande carácter que, invertendo esta tendência, consigam construir um universo melhor para as gerações vindouras. Diremos, pois, que o legado de Baden-Powell não está apenas actual como será, provavelmente, o melhor compromisso para o futuro dos jovens de todo o mundo.

Nelson Raimundo in «Prefácio da Associação dos Escoteiros de Portugal»

2007-04-03

Produtos made in Portugal e, de preferência, biológicos

Esforço-me sempre por comprar artigos portugueses, sobretudo no que toca a produtos agrícolas ( e mesmo quando são um pouco mais caros)- regra geral são menos sujeitos a práticas agrícolas massificadas e cheias de químicos, pelo que têm mais sabor. Hoje, até alhos e cebolas da China encontrei, grandes e reboludos, mas que nem chegam aos calcanhares dos deliciosos congéneres da Póvoa. Os exemplos são aos montes: grandes, com aspecto limpo e asseado, baratos... a cheirar a nada e a saber a menos.
Estou consciente de que, se não formos nós, cidadão comum, a praticarmos algum proteccionismo aos nossos produtos e , ao menos deste modo, garantir alguma auto-suficiência, o nosso governo, ao contrário do que se passa com todos os outros países da UE, não quer saber de defender os interesses do país.

Airbus da TAP ardeu...

Um dos reactores do Airbus A340-400 da TAP explodiu em pleno voo após a descolagem do aeroporto 4 de Fevereiro, em Luanda!

O facto foi pouco noticiado, mas na minha opinião deveria ser publicamente divulgado para percebermos o historial de acidentes das diferentes companhias aéreas.

2007-04-02

Os nossos "iluminados" politicos querem promover o Algarve junto do turismo Anglo-saxónico


Os nossos políticos concebem o turista do norte da Europa com a mesma falta de exigência e gostos aparolados do povo português. Os povos do norte da Europa, vêm ao sul à procura de sol e diversão, sim, mas, sobretudo o turista mais culto e endinheirado que é o que interessa ao país atrair aqui, também à procura das piturescas terrinhas brancas, das praias salpicadas de barquinhos coloridos, que contam alugar para conhecer a costa, verdes planícies e outeirinhos salpicados de olivais, por onde tencionam caminhar, de zonas húmidas propícias ao turismo ornitológico que tanto atrai os britânicos... Assim, em vez de promoverem o turismo rural e de aldeia ou o turismo de qualidade, aquele que se integra na paisagem e contribui para a sustentabilidade das suas populações ( tire-se exemplo de como a Grécia promove, de forma magistral a tipicidade das suas cíclades), as câmaras apostam nos prédios incaracterísticos, que destroiem a paisagem e vão descaracterizando a região. Deste modo, todos os anos, o Algarve perde turismo britânico em pról do turismo português, tipo "Arménio, trolha da Areosa" que mete a familia toda, mais os cunhados e sobrinhos num T2 dum 6º andar em Armação de Pêra, leva para a praia a lancheira atulhada de produtos que trouxe da terra, deixando na areia, ao fim do dia, os restos do picnic e, à noite, depois de ter assado uma febras no churrasco "imprubisado na baráunda", passeia-se com a família na marginal, de camisola caviada, chinela no pé e palito na boca.
E pensam os políticos, com zelo a mais e inteligência a menos, que esta tendência se inverte, mudando o nome à região!